quinta-feira, 19 de abril de 2012

Nem todos os Zombies são maus!

Se definirmos zombie como aquele que regressa há vida depois de morto, podemos classificar Jesus como um Zombie. Extremamente ofensivo, eu sei – mas remeto para o título do texto… Afinal, nem todos os Zombies são maus!
Depois de longos anos a estudar em instituições Católicas, enquanto mente naturalmente céptica e com um acentuado travo de ironia, não consigo parar de me questionar o que leva alguém a acreditar em Deus. O que leva alguém a crer que o seu Futuro, o seu Passado e o seu Presente estão dependentes de um acordo tácito com Jesus - uma personagem histórica que viveu há mais de dois mil anos. Que morreu pelos nossos pecados – apesar de na prática segundo a doutrina da mui nobre Igreja Católica podermos ir para o Inferno pelos nossos pecados… Mas bem, confesso que Teologia não é de todo a minha área, e não pretendo entrar em questões técnicas. A minha questão, na sua raiz mais básica, é pura e simplesmente o que é que o comum dos mortais vê de atractivo na crença em detrimento da falta desta. Aquilo que chamamos vulgarmente de ateísmo apesar de partilhar da opinião que esse é um daqueles termos que faz alguma confusão. Rotular-me como ateísta é como rotular-me de não preta, asiática ou praticante de futebol. Não definimos uma pessoa por aquilo que ela não é.
Ou talvez sim. Porque a questão de Deus é especial.
O meu primeiro grande problema com Deus, não é Deus per se mas o seu clube de fãs. Fascina-me essa comunidade de pessoas que pegam na Bíblia e levam os seus textos até às últimas consequências… As metáforas existentes têm valor e não nego que possam ser utilizadas como um modo de ensinar valores saudáveis às crianças (e até mesmo a alguns adultos) - a raiz da religião em si não é má, simplesmente não entendo como é que em pleno século XXI se leva a sério alguém que tem como lei um livro que vai de serpentes falantes a mulheres criadas das costelas de homens, sem mencionar o meu preferido: quando o filho do primeiro homem e mulher na terra decide casar vai à aldeia vizinha (espera, esses vieram da costela de quem mesmo!?).
Os meus problemas com a claque de Deus não terminam aqui porém. O constante assédio também me perturba. Ofertas de lugares no céu, venda de Bíblias à porta de casa e ainda as queridas senhoras em paragens de autocarro que olham para mim com ares de súplica suspirando como tenho cara de quem precisa de Deus. Preciso é de paciência! Mas não julgo o todo pela parte ou a parte pelo todo. Sei que nem todos os Católicos se comportam assim, mas falta uma atitude, uma mudança daqueles que sabem viver em respeito pelos descrentes…
E depois chegamos há organização em si. Á Igreja Católica enquanto instituição que prega a pobreza, a obediência e a castidade num sorriso irónico que revela o antigo (mas pertinente) ditado “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. A pobreza pode ser aplicada em alguns casos, mas como o exemplo vai de baixo para cima é normal que acabe por cair – chama-se gravidade, uma pequenina lei da física – se calhar está na altura do exemplo vir de lá de cima de quem realmente tem poder. Mas quem pode censurar o Papa, eu também, acho os sapatos Prada vermelhos muito mais interessantes que umas simples sandálias de couro…
 Outro dos principais motivos que, pessoalmente, me faz questionar a Igreja é falta de igualdade – uma instituição fundada em honra de um Homem tão nobre, tão humanitário, tão revolucionário como Cristo, deixou-se corromper. Perdeu-se. Aquele homem que pregava de terra em terra, que quebrava as injustiças, sentir-se-ia, provavelmente, envergonhado de ver que o seu nome é associado a uma organização em que os genitais ainda contam como um atestado de validade, em que se protege as aparências em vez do que realmente conta – os valores. Em que a evolução foi estanque porque ninguém, ninguém!, conseguiu levá-la a crescer porque ceder a pressões é mais fácil do que lutar contra elas.  A Igreja cresceu para se tornar aquilo contra que Jesus pregava. E mesmo assim os fiéis não conseguem parar e questionar. E, se o ensinamento mais básico de cristo foi o amor, a acção mais básica foi questionar os dogmas à sua volta. Com confiança no seu “pai” e pedindo aos outros que o seguissem, mas não é mesmo Cristo que termina questionando o seu próprio pai: “Por que me abandonaste?”.
E no entanto ignorar é mais fácil. Ser conduzido numa dança de redundâncias é mais fácil do que sair desse círculo e questionar o que está a acontecer. E esse é o problema da religião hoje em dia, não só da Católica, mas em geral. Estar integrado numa religião é fácil. É um facilitismo. Menos inquietações, menos perguntas, menos noites mal dormidas. E no entanto provavelmente isto não é estar integrado numa religião, porque estar integrado no que quer que seja implica pensar, implica passarmos a fazer parte do todo e não, sermos arrastados pelo todo. Não é ficarmos num estado de dormência tal, que deixamos de pensar, pensar é viver. Voltando ao título do texto, estes crentes, que nem sabem muito bem naquilo que crêem tornam-se zombies que se arrastam pelos meandros sombrios de algo que desconhecem.
E não, estes crentes, estes zombies, também não são maus. Não entro no jogo idiota de bem versus mal é uma luta caduca e somos todos humanos, somos todos bons e somos todos maus. Não temos é de ser todos carneirinhos. Podemos pensar, questionar e crescer dentro ou fora da religião, com consciência das nossas escolhas e das razões que nos levam a optar.  

3 comentários:

  1. Há uma coisa que lhe garanto: pensa, sim senhora, e com o corpo todo.
    Parabéns por isso! :)

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  2. Simplesmente interessante o teu ponto de vista. Temos tema para tertúlias.
    Um tio.

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  3. Maria Rita, em primeiro lugar, Parabéns pelo titulo (tanto do blog como pelo do texto), irrita-me não ter pensado nele primeiro. Em segundo, este texto foi um dos meus preferidos, do principio ao fim, uma grande escrita com um humor consciente: GENIAL. Continua a escrever e não te esqueças da tua contratação para o Café Curto, neste patamar vamos vender que vai ser uma loucura! PARABÉNS.

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